quarta-feira, 16 de outubro de 2013



NAVEGANDO ATRAVÉS E ALÉM DO SOFRIMENTO

      
Dizem que todos nós buscamos um sentido para a vida. Não acho que realmente estamos buscando isso. Acho que buscamos a experiência de nos sentirmos vivos de tal forma que nossas experiências no nível puramente físico tenham ressonâncias internas no mais profundo do nosso ser e da nossa realidade. Assim chegamos a sentir realmente o êxtase de estarmos vivos. No fundo essa é a questão. (Cambpell, Joseph. O Poder do Mito)



Houve um tempo em que homens conviviam com os deuses. Para os gregos, os deuses apresentavam muitas qualidades humanas e vários humanos, qualidades divinas. Zeus e tantos outros deuses mantinham uma estreita relação com os homens. Cronos devorava seus filhos, assim, Zeus aprisionou-o no Tártaro. Agora os deuses se foram e Cronos volta a dominar o mundo. As pessoas têm cada vez menos tempo para apreciar a vida, agradecer pelas coisas mais simples como a alegria do seu corpo, o ar, a água, o alimento de todo dia e a companhia das outras pessoas. A vida regulada pelo relógio escapa entre os dedos, passa em segundos. Trabalha-se muito para manter o sustento de uma família que mal convive. Os filhos aprendem a lição logo cedo com os horários de chegada e de saída, os horários da condução e tantos outros. Aprendem a disciplinar seus corpos, sentarem-se ordenadamente na sala. Aprendem a obedecer ao controle exercido pela chamada, pelas notas e avaliações. Aprendem que a vida não é fácil, ou como diz Zeca Baleiro, que nada vem de graça, nem o pão nem a cachaça. Prefiro Raul Seixas que, num tom de revolta, já dizia que não queria passar a vida sentado numa poltrona, com a boca aberta, escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar. Então, o que realmente importa?



Estamos tão absorvidos em fazer coisas e atingir objetivos de valor externo, que esquecemos que o valor interno, o êxtase, associado ao simples fato de estar vivo é que importa. O ápice da experiência transcende as palavras, transcende a mente. (Campbell, Joseph. O Poder do Mito)



Mídias Medusa petrificam famílias inteiras frente à TV num consumismo adicto de sonhos e bens de consumo. Jovens petrificados horas a fio frente a um computador ou algum jogo digital. Como Ulisses, vários se perdem numa ilha repleta de prazeres aliciantes, alguns alcançam os sonhos da fama e do dinheiro e descobrem a farsa da felicidade propagandeada, então, o que resta? Um grande vazio. I can get no satisfaction, assim já cantavam os Rolling Stones. Um grande vazio no coração do homem, um buraco do tamanho de Deus como dizem os Sufis.
Vivemos encantados pelo canto capitalista das sereias, desnorteados, indo pro fundo cada vez mais, vivendo entre um sofrimento enorme que permeia a sociedade humana sem saber o que fazer. Entretanto, existem sinais de navegadores experientes. Podemos contar com a sabedoria dos antigos que se atualiza e sobrevive até nossos dias em várias formas. Ensinamentos budistas dizem que a fonte do sofrimento humano é a ignorância. Viver na ignorância é viver em ilusão, em sonho, o Samsara, a roda da vida, morte e renascimento. Viver em consciência, ser um acordado, ser um Buda é viver o Nirvana. O incrível é que viver o Nirvana implica em incorporar o Samsara. Nirvana e Samsara são um. Isso lembra o que Jung dizia a respeito do desenvolvimento pleno da personalidade, um processo que implica o reconhecimento e a assimilação da sombra, uma tarefa verdadeiramente hercúlea, heroica. É a forma cósmica de Krishna, a divindade, apresentada a Arjuna, o buscador, onde parte da aparência era repleta de beleza, fonte de vida, cheio de seios que nutriam, e, ao mesmo tempo, sua boca cheia de dentes devorava os guerreiros em campos de batalha, seus olhos de fogo destruíam mundos inteiros, era a fome, a peste, a morte. Esta forma não pode ser vista pela leitura de livros, pelas práticas de austeridades. Os sábios, os grandes iogues anseiam por essa visão que só pode ser revelada por um amor sem reservas. Este é um dos ensinamentos mais significativos contidos na Bhagavad Gita, uma canção sagrada para os hindus.
Wu Jyh Cherng, um sacerdote taoísta, alertava que assim como os antigos navegadores se orientam utilizando poucas estrelas, numa era onde a vida é complexa, podemos simplificar nossas vidas e seguir alguns poucos e suficientes princípios norteadores. Para navegar através do oceano de confusão e sofrimento, os mestres budistas recomendam iniciar com a prática da contemplação dos quatro pensamentos – o nascimento humano precioso, a impermanência, o carma e o oceano de sofrimento.
Reconhecer a preciosidade de nascer num corpo humano com todas as suas potencialidades, implica em estar consciente da saúde (conceito ampliado) em si mesmo, nas relações familiares, relações de amizade, relações sociais e ambientais. A preciosidade em poder se comunicar por várias formas, nascer numa determinada família, comunidade, em uma determinada cultura, enfim, com todas as oportunidades de crescimento pessoal, estudos etc.
Nada dura pra sempre, tudo é impermanente, há uma constante transformação. A toda ação corresponde uma reação, ou seja, em condições propícias colhemos o que plantamos, isso é o carma. A impermanência implica num crescente senso de responsabilidade em cada ação realizada neste exato momento.
Vários são os sofrimentos. Existe o sofrimento físico, o sofrimento sobre o sofrimento e tantos outros tipos. Sofremos por não conseguirmos o que desejamos. E, quando conseguimos o que desejamos a felicidade é temporária e então, sofremos porque tudo passa. Sofremos por não conseguirmos evitar algumas situações. Enfim, sofremos porque os desejos não cessam até que a fonte cesse. O desejo vem pelo sentimento da falta. O sentimento da falta vem da ignorância, a ignorância da sua própria natureza búdica. Então, se existe algo digno de ser desejado é a extinção da ignorância, é acordar, é manifestar algo que já é inerente ao ser humano. Somos todos Budas. Estamos todos ligados, humanidade, natureza, cosmo. Essa interdependência nos designa uma responsabilidade cada vez mais ampla, desde o campo individual ao cósmico. É através desta visão de homem e de mundo, da perspectiva da ética não-centrada e da responsabilidade universal, que podemos ver cada dificuldade como oportunidade para aprender, descobrir e exercer as qualidades luminosas de um buda. É o que os mestres budistas chamam de liberação no seu próprio campo. Quando percebemos que nossa felicidade está ligada à felicidade de todos e agimos nessa direção, percorremos o caminho do Bodhisatva.
Ryutan Tokuda (também Tokuda Igarashi), um grande amigo e mestre Zen, certa vez disse aos alunos presentes num curso de acupuntura que trabalhar com o sofrimento humano é transformador da própria consciência, uma grande oportunidade para des-envolver a natureza búdica já presente em todos nós. As medicinas tradicionais do Japão, da China, da Índia e do Tibet trabalham com a visão que o terapeuta não cura ninguém, mas ajuda a própria pessoa a restabelecer seu equilíbrio. É assim que existe o encontro entre aquele que pede ajuda e aquele que se dispõe a ajudar, um encontro entre dois seres de natureza búdica, daí vem a expressão Namastê! Ou seja, o Buda que existe em mim saúda o Buda que existe em você.

Namastê!

Oliveiros,
Florianópolis, 13 de dezembro de 2012.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Aulas de Tai Chi Chuan e Chi Kung :

As oficinas são abertas a toda a comunidade.

Estou formando uma nova turma.

A primeira aula é sempre gratuita.

Há uma contribuição simbólica mensal de 50 reais.

Obviamente, caso a caso pode haver uma combinação com o aluno que tiver alguma dificuldade financeira justificada.

UFSC

CENTRO DE CULTURA E EVENTOS  (fundos)

QUARTAS-FEIRAS das 18 às 20h15min

OBS.: Estão previstas atividades extra-classe: caminhadas nos finais de semana e seminários sobre filosofia e práticas orientais.


Acupuntura e Shiatsu: atendimento em domicílio.

Contato:

oliveiros.dias.jr@gmail.com ,
oliveirosdias@hotmail.com ,

ou 48 9977 1922