segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

2016 - Tai Chi Chuan e Chi Kung - Reinício das atividades na UFSC.

Olá Pessoal,

Agora com o início do semestre letivo na UFSC, gostaria de convidá-los para as aulas de Tai Chi Chuan e Chi Kung.

As aulas se realizarão no Hall dos fundos do Centro de Cultura e Eventos da UFSC, uma área coberta próxima à porta dos fundos do edifício. A primeira aula é sempre gratuita e sem compromisso obrigatório, é uma aula para experimentar. 

Aulas às 4as feiras, das 16h30min às 17h50min.

Peço que os interessados retornem essa mensagem, aproveitando para me informar se os horários estão compatíveis com sua agenda. Senão, podem mandar uma sugestão para dia e horário (matutino ou vespertino) para a minha devida apreciação.

Atenciosamente,

Oliveiros.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

TAI CHI CHUAN & CHI KUNG na UFSC

Olá Pessoal,

Agora com o início do semestre letivo na UFSC, gostaria de convidá-los para as aulas de Tai Chi Chuan e Chi Kung.

As aulas se realizarão no Hall dos fundos do Centro de Cultura e Eventos da UFSC, uma área coberta próxima à porta dos fundos do edifício. A primeira aula é sempre gratuita e sem compromisso obrigatório, é uma aula para experimentar. 

A idéia é que as aulas acontecerão uma vez por semana.  As aulas terão 1h30min de duração.  A sugestão inicial seria às 14 h  ou às 16 h. 

Peço que os interessados retornem essa mensagem, aproveitando para me informar se os horários estão compatíveis com sua agenda. Senão, podem mandar uma sugestão para dia e horário (vespertino ou matutino) para a minha devida apreciação.

Eu vou estar em atividades outras na UFSC durante toda a semana entre 18h30min e 22h30min, portanto, não haverão aulas  de Tai Chi no período noturno.

Atenciosamente,

Oliveiros.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013



NAVEGANDO ATRAVÉS E ALÉM DO SOFRIMENTO

      
Dizem que todos nós buscamos um sentido para a vida. Não acho que realmente estamos buscando isso. Acho que buscamos a experiência de nos sentirmos vivos de tal forma que nossas experiências no nível puramente físico tenham ressonâncias internas no mais profundo do nosso ser e da nossa realidade. Assim chegamos a sentir realmente o êxtase de estarmos vivos. No fundo essa é a questão. (Cambpell, Joseph. O Poder do Mito)



Houve um tempo em que homens conviviam com os deuses. Para os gregos, os deuses apresentavam muitas qualidades humanas e vários humanos, qualidades divinas. Zeus e tantos outros deuses mantinham uma estreita relação com os homens. Cronos devorava seus filhos, assim, Zeus aprisionou-o no Tártaro. Agora os deuses se foram e Cronos volta a dominar o mundo. As pessoas têm cada vez menos tempo para apreciar a vida, agradecer pelas coisas mais simples como a alegria do seu corpo, o ar, a água, o alimento de todo dia e a companhia das outras pessoas. A vida regulada pelo relógio escapa entre os dedos, passa em segundos. Trabalha-se muito para manter o sustento de uma família que mal convive. Os filhos aprendem a lição logo cedo com os horários de chegada e de saída, os horários da condução e tantos outros. Aprendem a disciplinar seus corpos, sentarem-se ordenadamente na sala. Aprendem a obedecer ao controle exercido pela chamada, pelas notas e avaliações. Aprendem que a vida não é fácil, ou como diz Zeca Baleiro, que nada vem de graça, nem o pão nem a cachaça. Prefiro Raul Seixas que, num tom de revolta, já dizia que não queria passar a vida sentado numa poltrona, com a boca aberta, escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar. Então, o que realmente importa?



Estamos tão absorvidos em fazer coisas e atingir objetivos de valor externo, que esquecemos que o valor interno, o êxtase, associado ao simples fato de estar vivo é que importa. O ápice da experiência transcende as palavras, transcende a mente. (Campbell, Joseph. O Poder do Mito)



Mídias Medusa petrificam famílias inteiras frente à TV num consumismo adicto de sonhos e bens de consumo. Jovens petrificados horas a fio frente a um computador ou algum jogo digital. Como Ulisses, vários se perdem numa ilha repleta de prazeres aliciantes, alguns alcançam os sonhos da fama e do dinheiro e descobrem a farsa da felicidade propagandeada, então, o que resta? Um grande vazio. I can get no satisfaction, assim já cantavam os Rolling Stones. Um grande vazio no coração do homem, um buraco do tamanho de Deus como dizem os Sufis.
Vivemos encantados pelo canto capitalista das sereias, desnorteados, indo pro fundo cada vez mais, vivendo entre um sofrimento enorme que permeia a sociedade humana sem saber o que fazer. Entretanto, existem sinais de navegadores experientes. Podemos contar com a sabedoria dos antigos que se atualiza e sobrevive até nossos dias em várias formas. Ensinamentos budistas dizem que a fonte do sofrimento humano é a ignorância. Viver na ignorância é viver em ilusão, em sonho, o Samsara, a roda da vida, morte e renascimento. Viver em consciência, ser um acordado, ser um Buda é viver o Nirvana. O incrível é que viver o Nirvana implica em incorporar o Samsara. Nirvana e Samsara são um. Isso lembra o que Jung dizia a respeito do desenvolvimento pleno da personalidade, um processo que implica o reconhecimento e a assimilação da sombra, uma tarefa verdadeiramente hercúlea, heroica. É a forma cósmica de Krishna, a divindade, apresentada a Arjuna, o buscador, onde parte da aparência era repleta de beleza, fonte de vida, cheio de seios que nutriam, e, ao mesmo tempo, sua boca cheia de dentes devorava os guerreiros em campos de batalha, seus olhos de fogo destruíam mundos inteiros, era a fome, a peste, a morte. Esta forma não pode ser vista pela leitura de livros, pelas práticas de austeridades. Os sábios, os grandes iogues anseiam por essa visão que só pode ser revelada por um amor sem reservas. Este é um dos ensinamentos mais significativos contidos na Bhagavad Gita, uma canção sagrada para os hindus.
Wu Jyh Cherng, um sacerdote taoísta, alertava que assim como os antigos navegadores se orientam utilizando poucas estrelas, numa era onde a vida é complexa, podemos simplificar nossas vidas e seguir alguns poucos e suficientes princípios norteadores. Para navegar através do oceano de confusão e sofrimento, os mestres budistas recomendam iniciar com a prática da contemplação dos quatro pensamentos – o nascimento humano precioso, a impermanência, o carma e o oceano de sofrimento.
Reconhecer a preciosidade de nascer num corpo humano com todas as suas potencialidades, implica em estar consciente da saúde (conceito ampliado) em si mesmo, nas relações familiares, relações de amizade, relações sociais e ambientais. A preciosidade em poder se comunicar por várias formas, nascer numa determinada família, comunidade, em uma determinada cultura, enfim, com todas as oportunidades de crescimento pessoal, estudos etc.
Nada dura pra sempre, tudo é impermanente, há uma constante transformação. A toda ação corresponde uma reação, ou seja, em condições propícias colhemos o que plantamos, isso é o carma. A impermanência implica num crescente senso de responsabilidade em cada ação realizada neste exato momento.
Vários são os sofrimentos. Existe o sofrimento físico, o sofrimento sobre o sofrimento e tantos outros tipos. Sofremos por não conseguirmos o que desejamos. E, quando conseguimos o que desejamos a felicidade é temporária e então, sofremos porque tudo passa. Sofremos por não conseguirmos evitar algumas situações. Enfim, sofremos porque os desejos não cessam até que a fonte cesse. O desejo vem pelo sentimento da falta. O sentimento da falta vem da ignorância, a ignorância da sua própria natureza búdica. Então, se existe algo digno de ser desejado é a extinção da ignorância, é acordar, é manifestar algo que já é inerente ao ser humano. Somos todos Budas. Estamos todos ligados, humanidade, natureza, cosmo. Essa interdependência nos designa uma responsabilidade cada vez mais ampla, desde o campo individual ao cósmico. É através desta visão de homem e de mundo, da perspectiva da ética não-centrada e da responsabilidade universal, que podemos ver cada dificuldade como oportunidade para aprender, descobrir e exercer as qualidades luminosas de um buda. É o que os mestres budistas chamam de liberação no seu próprio campo. Quando percebemos que nossa felicidade está ligada à felicidade de todos e agimos nessa direção, percorremos o caminho do Bodhisatva.
Ryutan Tokuda (também Tokuda Igarashi), um grande amigo e mestre Zen, certa vez disse aos alunos presentes num curso de acupuntura que trabalhar com o sofrimento humano é transformador da própria consciência, uma grande oportunidade para des-envolver a natureza búdica já presente em todos nós. As medicinas tradicionais do Japão, da China, da Índia e do Tibet trabalham com a visão que o terapeuta não cura ninguém, mas ajuda a própria pessoa a restabelecer seu equilíbrio. É assim que existe o encontro entre aquele que pede ajuda e aquele que se dispõe a ajudar, um encontro entre dois seres de natureza búdica, daí vem a expressão Namastê! Ou seja, o Buda que existe em mim saúda o Buda que existe em você.

Namastê!

Oliveiros,
Florianópolis, 13 de dezembro de 2012.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Aulas de Tai Chi Chuan e Chi Kung :

As oficinas são abertas a toda a comunidade.

Estou formando uma nova turma.

A primeira aula é sempre gratuita.

Há uma contribuição simbólica mensal de 50 reais.

Obviamente, caso a caso pode haver uma combinação com o aluno que tiver alguma dificuldade financeira justificada.

UFSC

CENTRO DE CULTURA E EVENTOS  (fundos)

QUARTAS-FEIRAS das 18 às 20h15min

OBS.: Estão previstas atividades extra-classe: caminhadas nos finais de semana e seminários sobre filosofia e práticas orientais.


Acupuntura e Shiatsu: atendimento em domicílio.

Contato:

oliveiros.dias.jr@gmail.com ,
oliveirosdias@hotmail.com ,

ou 48 9977 1922

sábado, 31 de março de 2012

Pesquisa Qualitativa e Interesses do Conhecimento


Florianópolis, 13 de abril de 2011.

Universidade Federal de Santa Catarina.

Oliveiros Dias Jr.

Grupo de Pesquisas em Educação em Saúde.

Pesquisa Qualitativa
e Interesses do Conhecimento.

Muito se discute sobre pesquisa qualitativa e, ou quantitativa, fazendo-se comparações que muitas vezes não levam a lugar algum.  Bauer e Gaskell (2002) afirmam haver muita confusão metodológica nessa comparação, confundindo coleta e análise de dados com princípios do delineamento da pesquisa e interesses do conhecimento. Estes mesmos autores sugerem que a escolha entre quantitativa ou qualitativa é prioritariamente uma decisão sobre a geração de dados e os métodos de análise e, secundariamente pode ser uma escolha entre o delineamento da pesquisa ou de interesses do conhecimento.

Alguns pontos são apontados como importantes a serem lembrados num trabalho de pesquisa científica (Bauer e Gaskell, 2002):
- não há quantificação sem qualificação (ou categorização);
- não há análise estatística sem interpretação;
- o pluralismo metodológico dentro do processo de pesquisa vai além da lei do instrumento;
- a ordenação no tempo - previsão, levantamento, análise, interpretação (de dados) e comunicação dos resultados;
- um discurso independente dos “padrões de boa prática”;
- cuidar da retórica observando o logos, o pathos e o ethos da persuasão (Leach apud Bauer e Gaskell, 2002), lembrando que os métodos e os procedimentos são o meio científico de prestação pública de contas com relação à evidência (Habermas apud Bauer e Gaskell, 2002);
- interesses do conhecimento e métodos (Habermas, 1987);
- a autenticação, a crítica e a possibilidade de uma ação emancipatória.

Quando se domina muito uma ferramenta (ou instrumento) é tendência a utilizar a mesma ferramenta para resolver problemas de ordens diversas, essa é a lei do instrumento, que deve ser transcendida pelo pesquisador.

Afirmações como “explicamos a natureza, compreendemos a vida mental”(Dilthey apud Günter, 2006) e que “métodos quantitativos e qualitativos são mais que diferentes estratégias de pesquisa e coleta de dados, mas, que representam, fundamentalmente diferentes referenciais epistemológicos para teorizar a natureza do conhecimento” (Filstead apud Bauer e Gaskell, 2002) estão nas origens da discussão entre as abordagens qualitativa e quantitativa, discussão essa considerada infrutífera.

Sobre os critérios de qualidade de pesquisa, para Günther (2006) a abordagem qualitativa, por ser mais recente, ainda carece de critérios bem claros e delineados. Agregando as considerações de vários outros pesquisadores - Grunenberg, Mayring, Miles e Huberman e Steinke - Günther formulou critérios de qualidade para a pesquisa qualitativa sob forma de perguntas:

- As perguntas da pesquisa são claramente formuladas?
- O delineamento da pesquisa é consistente com o objetivo e as perguntas?
- Os paradigmas e os construtos analíticos foram bem explicitados?
- A posição teórica e as expectativas do pesquisador foram explicitadas?
- Adotaram-se regras explícitas nos procedimentos metodológicos?
- Os procedimentos metodológicos são bem documentados?
- Adotaram-se regras explícitas nos procedimentos analíticos?
- Os procedimentos analíticos são bem documentados?
- Os dados foram coletados em todos os contextos, tempos e pessoas sugeridos pelo delineamento?
- O detalhamento da análise leva em conta resultados não-esperados e contrários ao esperado?
- A discussão dos resultados leva em conta possíveis alternativas de interpretação?
- Os resultados são - ou não - congruentes com as expectativas teóricas?
- Explicitou-se a teoria que pode ser derivada dos dados e utilizada em outros contextos?
- Os resultados são acessíveis, tanto para a comunidade acadêmica quanto para os usuários no campo?
- Os resultados estimulam ações - básicas e aplicadas futuras?


Günther (2006) afirma que um pesquisador classificado como quantitativo dificilmente exclui o interesse em compreender as relações complexas e que, tal compreensão é por meio de explicações ou compreensões das relações entre variáveis. O mesmo autor aponta que, “sem dúvida, pode-se conceber as múltiplas atividades que compõem o processo de pesquisa como um ato social de construção de conhecimento”, apontando para outra questão mais importante ainda a ser respondida: “qual a correspondência entre o conhecimento socialmente construído e a realidade alheia?”, ainda supondo aqui a possibilidade que ela existea independentemente do pesquisador. Flick e cols (apud Günther, 2006) apontam a primazia da compreensão como princípio do conhecimento e que a pesquisa é percebida como um ato subjetivo de contrução. Sendo assim, Günther (2006) coloca em dúvida se realmente, na pesquisa quantitativa, crenças e valores pessoais não são consideradas fontes de influência no processo científico.

Neves (1996) afirma que o arcabouço de interpretação empregado pelo pesquisador, que lhe serve de visão de mundo e de referencial determina o vínculo entre signo e significado, conhecimento e fenômeno e serve para estabelecer caminhos de pesquisa de tal forma que os esforços de cunho qualitativo e quantitativo podem se complementar, onde uma mistura de procedimentos de cunho racional e intuitivo são capazes de contribuir para uma melhor compreensão dos fenômenos. Citando Pope & Mays, Neves (1996) afirma ser possível a distinção entre os enfoques qualitativo e quantitativo, mas não seria correto afirmar que guardam uma relação de oposição. Segundo Neves (1996) a combinação das técnicas quantitativas e qualitativas torna uma pesquisa mais forte. Esta combinação recebeu diversos nomes: triangulação (Jick apud Neves, 1996); validação convergente ou multimétodo (Fiske apud Neves, 1996); triangulação simultânea e triangulação seqüenciada (Morse apud Neves, 1996).

O ideal científico que descreve e explica a natureza sem a utilização de uma retórica adequada, é cada vez mais desafiado pela visão da realidade presente na comunicação no meio dos cientistas e entre estes e o público. O dever da ciência tem obscurecido o ser da ciência. A comunicação é um processo essencial da atividade científica e isto implica na persuação dos ouvintes. Leach (apud Bauer e Gaskell, 2002) através da análise retórica aponta a base da persuação em três pontos - o logos, o pathos e o ethos. O logos se refere à pura lógica do argumento em suas várias formas. O pathos refere-se às formas de apelo e o reconhecimento dado à audiência considerando-se a psicologia social das emoções.O ethos trata das referências explícitas e implícitas na situação de quem fala, que estabelece a credibilidade e a legitimidade no falar o que está sendo dito. Convencer os pares, as agências financiadoras, o público sobre os resultados da pesquisa sempre envolve esse tripé da persuasão, seria ingênuo se pensar que simplesmente ideal científico, o logos, o argumento sejam suficientes sem o pathos e o ethos.  

Há muito se discute sobre os objetivos e resultados da pesquisa assim como os interesses reais por detrás da mesma, se puramente o conhecimento, o controle ou a emancipação social. Refletir sobre tais temas é essencial para uma crítica à própria ciência que se faz. Sempre se coloca a pesquisa quantitativa a serviço do controle e a pesquisa qualitativa, que dá voz às pessoas como emancipatória, uma dicotomia, mais uma vez, não verdadeira nem de alguma utilidade. Bauer e Gaskell (2002) vão referir-se à filosofia de Jürgen Habermas apresentada em Knowledge and Human Interests (Conhecimento e Interesses Humanos, 1987), daqui pra frente referida somente como Habermas.

Habermas identifica três “interesses do conhecimento”, compreendê-los dá sentido à prática da ciência social e das suas conseqüencias para a sociedade. A chave para tal compreensão, ao contrário do que se pensa, não está nas orientações intencionais e epistemologicamentes conscientes dos cientistas, os interesses do conhecimento estão antropologicamente sedimentados. Argumenta que desde Kant, “constrói-se o próprio caminho sobre estágios abandonados de reflexão”, com o predomínio do positivismo, a filosofia não compreende a ciência, já que a própria ciência se constituiu como a única forma de conhecimento que o positivismo admite como crítica, algo como o falsificacionismo de Popper. Faz-se necessária uma auto-reflexão crítica, pela qual a ciência pode se tornar capaz de autocompreensão (não-cientística), sendo capaz de revelar as condições que possam impedir uma prática de pequisa crítica e emancipatória. Os três constitutivos do conhecimento, segundo Habermas, estão na base das ciências “empírico-analíticas”, histórico-hermenêuticas” e “críticas”.

As ciências “empírico-analíticas”, se relacionam com a luta perpétua para o controle do mundo natural, ou seja, têm o interesse no controle técnico, procurando produzir conhecimento nomológico. É um modelo que pode ser visto em muita pesquisa social quantitativa.

As ciências histórico-hermenêuticas vêm de um interesse prático no estabelecimento do consenso, sendo imperativo a compreensão intersubjetiva fidedigna. A Verstehen (compreensão hermenêutica) visa restaruar canais rompidos de comunicação. Num primeiro nível, a comunicação entre a experiência de um indivíduo e a tradição à qual ele pertence. Num segundo nível da esfera de comunicação, acontece entre os diferentes indivíduos, grupos e tradições. Sendo a falta de comunicação um problema perpétuo e onipresente no mundo social, restabelecer esta comunicação também se torna um problema da mesma ordem. O consenso é fluido e dinâmico, conseguido através de uma interpretação que evolui historicamente, orientada a apreender a realidade social que constitui o “interesse prático” das ciências hermenêuticas - “cuja finalidade (não dita) é estabelecer as normas comuns que tornam a atividade social possível”. Habermas afirma que

“uma crítica bem-sucedida é a que explica os fenômenos sob investigação com mais sucesso do que as teorias aceitas até o momento. E ao fazer isto, ela deve desafiar pressupostos que até o momento tinham sido aceitos acriticamente.”

Assim, ao assumir-se um enfoque qualitativo, seja fenomenológico, socioconstrucionista ou qualquer outro, corre-se o risco de substituir-se acriticamente os próprios pressupostos pelos dos informantes.

Os interesses emancipatórios das chamadas “ciências críticas” por Habermas, não exclui mas transcende as ciências empírico-analíticas ou as de entendimento hermenêutico. Os interesses emancipatórios fornecem o referencial para ir além do conhecimento nomológico e das Verstehen, sendo

“através de um processo auto-reflexivo que as ciências críticas podem chegar a identividar estruturas condicionadoras de poder que, acriticamente se mostram como “naturais” mas são, de fato, o resultado de uma “comunicação sistematicamente distorcida e de uma repressão sutilmente legitimada”

Como afirmam Bauer e Gaskell (2002), mais importante que a escolha da técnica empregada, a prontidão dos pesquisadores em questionar seus próprios pressupostos e as interpretações subseqüentes de acordo com os dados, juntamente com o modo como os resultados são recebidos e por quem são recebidos, são fatores muito mais importantes para uma ação emancipatória. Igualmente Pereira (1999), alerta que ao assumir premissas, o que é inerente à estrutura do conhecimento científico, condiciona o entendimento do real, repensá-las auxiliam a concepção das estratégias de investigação; distinguir entre ser e atributo, objeto da filosofia, constitui-se em elemento importante para que o pesquisador defina a delimitação do seu objeto de estudo.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

Bauer, M.W.; Gaskell, G.; Allum, N.C.(2002). Qualidade, quantidade e interesses do conhecimento: Evitando confusões. Em: M.W.Bauer; G.Gaskell (Eds). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: Um manual prático. (pp. 17-36). Petrópolis: Vozes.

Günther, Hartmut. Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a questão?. Psic.: Teor. e Pesq., Ago 2006, vol.22, no.2, p.201-209.

Neves, J.L. (1996). Pesquisa qualitativa - características, usos e possibilidades. Caderno de Pesquisas em Administração. São Paulo,1996, v.1, n.3, 2o.sem.

Pereira, J.C.R. (1999)l. O dado qualitativo. Em:______. Análise de dados qualitativos: Estratégias metodológicas para as Ciências da Saúde, Humanas e Sociais. (21-42). São Paulo: Editora Universitária.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Tai Chi Chuan & Wudang Chi Kung


 

AULAS DE TAI CHI CHUAN E CHI KUNG

UFSC 2013

(Eucaliptos do Bosque do CFH / Centro de Convivência):


AVISO IMPORTANTE

As turmas estão sendo formadas. 
3as feiras (horário a resolver)
5as feiras das 15 as 16h.

Estão previstas atividades extra-classe
 (caminhadas nos finais de semana e
 seminários sobre filosofias do oriente)


Praia da Armação :

Domingos nas Campanhas da Armação (a combinar).

(ilhota entre as praias da Armação e Matadeiro)

Se vocêm tem interesse em aulas particulares ou em grupo, coloque suas sugestões aqui ou mande por email.

Primeira aula grátis.

OLIVEIROS.


48 9977 1922

terça-feira, 26 de julho de 2011

BUDISMO E PSICANÁLISE

Florianópolis, 4 de julho de 2011.

Universidade Federal de Santa Catarina.
Departamento de Psicologia.
Escolas Psicológicas III - Psicanálise.

Prof.  Fernando Aguiar Brito de Sousa.

Oliveiros Dias Jr.

Budismo e Psicanálise


Introdução

    O budismo e a psicanálise, duas escolas, dois empreendimentos humanos. O primeiro com 2500 anos. O segundo com pouco mais de 100 anos. Tão distantes no tempo e no espaço, nascidos em contextos históricos e sociais tão diferentes, certamente possuem diferenças. Ainda assim, apresentam pontos de convergência bem interessantes. O sofrimento leva o homem a refletir sobre si mesmo e sobre a origem e o cessamento do sofrimento. Tanto o budismo como a psicanálise estudaram sistematicamente sobre esse tema.

Encontros entre budismo e psicanálise

    Bezerra (2011) aponta quatro pontos de encontro importantes entre o budismo e a psicanálise: a teoria parte da experiência, a ênfase na ação, o horizonte ético e a perspectiva ecológica.
    O budismo e a psicanálise partem da experiência para estudar a natureza e o funcionamento do eu. Buscam melhores alternativas para lidar com as dificuldades encontradas no dia a dia. Há um colorido fenomenológico porque o centro não é de natureza objetiva mas a descrição da experiência de si em relação com o mundo.
    A despeito da sofisticação e complexidade de suas teorias, budismo e psicanálise são saberes fundamentados na prática, são formas de intervenção na existência. O sofrimento impele o homem a transformar sua existência, torná-la mais interessante, procurando descrever e compreender a si, o mundo e sua vida.
    Budismo e psicanálise não separam a ética da epistemologia. A prática e a reflexão teórica apontam para a necessidade de mudança nos referenciais adotados para conceber e viver a vida. Conhecer-se para transformar-se, construir uma vida mais criativa e livre de condicionamentos. É semelhante ao que ocorre com a análise, quando auxilia o sujeito a se reorganizar psiquicamente, transformando o posicionamento deste frente às situações, aos seus desejos, ideais e às expectativas que incidem sobre ele.
    Incompatíveis tanto com descrições mentalistas, quanto com o reducionismo materialista, o budismo e a psicanálise compartilham de uma mesma perspectiva ecológica onde psique, cérebro e mundo são aspectos de uma mesma realidade, imbricados uns nos outros, interagindo e influenciando reciprocamente o tempo todo. Da ação do corpo no ambiente emerge a experiência subjetiva, que é inserida corporalmente, ancorada no mundo físico e simbólico, sustentando, assim, uma relação permanente de afetação recíproca.

A possibilidade de uma ipseidade destituída de uma identidade permanente

    A psicanálise é tida como uma prática voltada para a ampliação da capacidade normativa do sujeito (Bezerra, 2011). Na perspectiva de Osho (2000) ela está confinada à mente, mergulha fundo nesta, mas, seu objetivo não é muito elevado, sua meta é manter as pessoas normais, menos infelizes, menos miseráveis, não transforma a consciência do homem no sentido de  uma transcendência desta condição.
    Contemplação e desapego ao eu, realizar e vivenciar a verdadeira natureza do ser, um ser desperto, um buda (termo de origem no sânscrito que significa desperto), viver liberto de toda ignorância e sofrimento. Esta é a proposta da “psicologia” budista. Como disse um mestre do budismo zen do século XIII, Eihei Dogen, “estudar o budismo é estudar a si mesmo; estudar a si mesmo é esquecer-se de si mesmo”. Para o budismo, existe a possibilidade que o sujeito tenha uma ipseidade ainda que destituído de uma identidade permanente, sendo possível ao sujeito ser livre do esforço neurótico por manter a coerência com uma identidade imaginária, podendo agir de maneira mais livre no mundo (Sanches e Safra). Aqui está um ponto importante que diferencia o budismo e a psicanálise, faz-se necessária uma análise mais profunda sobre o sofrimento e o “eu” que sofre.

O eu e o sofrimento

    De acordo com Christensen (1999), baseado na teoria psicanalítica de Freud, lidamos com três fontes de sofrimento e algumas alternativas paliativas para lidar com ele. São as fontes de sofrimento: o corpo (doenças, envelhecimento etc.); o mundo externo (com suas forças destrutivas); e finalmente, as nossas relações com os outros homens. Para lidar com isso, relativizamos a situação, procuramos por satisfações substitutivas ou nos fazemos insensíveis abusando de substâncias intoxicantes. Freud (1926 apud Christensen, 1999) indicou algumas fontes principais de sofrimento: perda do objeto; perda do amor e perda física. Este ainda sugere que a ansiedade e a depressão são reações às perdas dolorosas, que levam o indivíduo a procurar prazer e evitar o desprazer. É importante lembrar que Freud (1978 [1910]) já afirmava que os indivíduos adoecem, procurando uma satisfação substitutiva por não conseguir a satisfação primária das suas necessidades eróticas na realidade. Com elevadas aspirações e sob pressão dos recalques, a realidade torna-se insatisfatória e o indivíduo refugia-se na fantasia. Este indivíduo compensa sua insatisfação engendrando realizações de desejos. É bem interessante frisar que para o budismo, o eu está sempre insatisfeito, movido pelo desejo, apoiando-se numa ficção de um eu permanente e independente, o que em si é uma fantasia, uma ilusão (aqui se aplica o termo maya em sânscrito), fonte de sofrimento.
    Bezerra (2011) afirma que para Freud o eu é uma ficção necessária à ação e a experiência de si é uma resultante complexa, inacabada e mutante de um equilíbrio instável em um conjunto amplo de fatores - as exigências conflitantes entre “isso”, “eu” e “supereu” perante os desejos inconscientes, normas sociais internalizadas, mecanismos de defesa e outras demandas. Assim, esse eu é fragmentado, direcionado por forças que não domina, uma estrutura mais ou menos bem sucedida que leva o sujeito a lidar com o desamparo, a angústia e o desejo, a buscar satisfação, enfim, a agir no mundo. O eu também é descrito como uma imagem do reflexo no olhar do outro, daquilo que é suposto poder causar ao outro, configurado por uma trajetória de identificações, posicionamentos subjetivos frente aos outros, configurações somáticas e uma resultante de interações que permitem ao sujeito projetar-se para o futuro. Neste ponto cabe frisar que para o budismo o tempo também é ilusório.

A psicologia budista

    Vários autores ocidentais apontam convergências e divergências entre o budismo e a psicanálise, os mais conhecidos internacionalmente são Erich Fromm e Mark Epistein e, nacionalmente, Benilton Bezerra Jr. No entanto, devido às influências sócio-históricas dos autores ocidentais e as dificuldades na tradução de obras budistas originais, para adentrar na “psicologia” budista, foi escolhido para este trabalho a obra de Ryotan Tokuda (1997) um monge budista zen, graduado (1963) em filosofia budista pela Universidade de Komazawa, Japão e que residiu no Brasil por mais de quarenta anos, dominando os conceitos budistas em vários idiomas: sâncrito, páli, japonês e português.
    De acordo com Tokuda (1997) não existe uma psicologia budista propriamente dita, existe o yuishiki (em japonês) ou vijna matravada (em sânscrito). O yuishiki é estudado através da prática da meditação, é diretamente ligado à ela. Nesta perspectiva o mundo é consciência. Mesmo que não tenha dogmas, o budismo baseia-se em algumas teorias. Aqui vamos nos referir a três teorias: a teoria das características da existência;  as quatro nobres verdades e a teoria dos doze nidanas.
    São quatro as características (ou marcas) da existência: anikka, dukkha, anatman e nirvana. Anikka significa impermanência, ou seja, tudo se transforma constantemente. Assim, todo e qualquer apego gera sofrimento. Dukkha é este sofrimento proveniente do apego, da insatisfação. Daí chega-se à terceira característica, anatman, a não existência de um eu, uma identidade permanente, portanto, a impossibilidade de se dizer meu ou minha. A quarta característica é o nirvana, um estado de extinção da dor, uma paz profunda que o mundo não pode dar nem tirar, quando se chega ao estado de não-eu, não há nada para segurar, para pedir ou fugir.
    Considerada o primeiro sermão do Buda Sakiamuni, realizado logo após seu despertar (por isso buda, que significa desperto), “As Quatro Nobres Verdades”: (1) toda existência é dor (dukkha); (2) toda dor provém do apego, da ignorância; (3) existe uma maneira de  se eliminar o sofrimento e (4) essa maneira é a prática do Caminho (o caminho óctuplo, um conjunto de práticas e ensinamentos budistas). Os sofrimentos primários (principais) são nascer, envelhecer, adoecer e morrer, pois, encaradas sem sabedoria, todas as fases da existência humana são sofrimento. Os sofrimentos secundários: não alcançar aquilo que se deseja e não conseguir ficar longe daquilo que se odeia; a separação daqueles a quem amamos; o encontro com aqueles a quem odiamos.A satisfação dos desejos vem através dos sentidos que nos conectam ao mundo impermanente ao nosso redor. Se gostamos de algo, acabamos por desejá-lo e nem sempre conseguimos e, quando conseguimos, vem a impermanência e leva tudo embora. Sofremos porque desejamos. Desejamos porque sentimos a falta. O sentimento de falta vem da ignorância. O nirvana, a plenitude, o não sofrimento é alcançado pela extinção da ignorância praticando-se o caminho óctuplo, que, resumidamente se entende por:: compreensão correta, pensamento correto, palavra correta, ação correta, vida correta, esforço correto, atenção correta e concentração correta.
    A teoria dos doze nidanas (ou da originação interdependente) é bem complexa para ser tratada aqui, mas, resumidamente, parte de uma seqüência de questões: por que existe o nascimento, envelhecimento e a morte? Por que tudo isso é sofrimento? Por que existimos? O que existe? Por que temos todos os sentidos e a consciência? Por que possuímos uma mente? E assim por diante até que no último elo, onde a teoria responde que tudo é ignorância, ignorância sobre as coisas e sobre nós mesmos. Ignorantes, não vivemos a realidade, as coisas como elas são, o mundo como ele é. Pratica-se o caminho para extinguir a ignorância e atingir a sabedoria, eliminando o sofrimento e alcançando a paz e a felicidade.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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TEXTOS COMPLEMENTARES :

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